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Vamos cuidar das nossas mamas?  |   Dr. Rodrigo Souto

O câncer de mama é provavelmente o mais temido pelas mulheres, pois poucas doenças como o câncer, resumem em si tantos aspectos:

 

▪ Social,pela sua grande difusão;

▪ Científico,pela sua complexidade biológica ;

▪ Diagnóstico,pela necessidade de uma identificação precoce da neoplasia;

▪ Terapêutico,pelos diversos métodos multidisciplinares de cura;

â–ª Psicológico,pelo que afetam a percepção da sexualidade e a própria imagem pessoal ; 

▪ Reabilitativo pela necessidade de uma recuperação familiar e social da paciente.

 

Este tipo de câncer representa nos países ocidentais uma das principais causas de morte em mulheres na fase adulta. As estatísticas indicam o aumento de sua frequência tantos nos países desenvolvidos quanto nos países em desenvolvimento. Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), nas décadas de 60 e 70 verificou-se um aumento de 10 vezes nas taxas de incidência dos Registros de Câncer na base populacional de diversos continentes. No Brasil, o câncer de mama é o que mais causa mortes entre as mulheres. De acordo com o Inca, o câncer de mama será o segundo mais incidente, com 57120 casos novos em 2014 e uma mortalidade de 13345, sendo 120 homens e 13225 mulheres.

 

Realmente a incidência de Câncer de mama vem aumentando nas últimas décadas embora também saibamos que por contrapartida a mortalidade vem diminuindo, isto devido ao diagnósticos mais precoce do tumor pelos métodos modernos de diagnóstico. Não se sabe ao certo o motivo deste aumento. Provavelmente está relacionado ao estilo de vida moderna da mulher. Sabemos que quanto mais ciclos ovulatórios a mulher tem durante sua vida, ela terá um aumento da incidência do tumor. Ter o primeiro filho após 30 anos, ter poucos filhos ou nenhum, pouco tempo de amamentação, primeira menstruação muito jovem ( antes dos 12 anos ) e parar de menstruar tardiamente, estão todos relacionados ao aumento dos ciclos ovulatórios, aumentando a chance de desenvolver a doença.

 

Ao lado disso provavelmente hábitos menos saudáveis, como excesso de peso, sedentarismo, uso pelas mulheres em maior quantidade do álcool, pouca atividade física e alimentação inadequada, irá contribuir para estes fatores. Também sabemos hoje que a Terapia de Reposição Hormonal usada indiscriminadamente nas décadas passadas esta contribuindo para aumentar esta incidência. O fator genético esta relacionado apenas em 5 a 10 % dos tumores, os outros 90% são tumores ditos esporádicos. O tumor de mama é mais comum em mulheres pós menopausa aumentando a partir dos 50 anos até os 70 quando esta incidência começa a diminuir.

 

Evitar a obesidade, através de dieta equilibrada e prática regular de exercícios físicos, é uma recomendação básica para prevenir o câncer de mama, já que o excesso de peso aumenta o risco de desenvolver a doença. A ingestão de álcool, mesmo em quantidade moderada, é contraindicada, pois é fator de risco para esse tipo de tumor, assim como a exposição a radiações ionizantes em idade inferior aos 35 anos.

Se a mulher beber 2 drinks diários ela estará aumentando seu risco em quase 40%  a mais daquelas que não tomam bebidas alcoólicas. Ainda não há certeza da associação do uso de pílulas anticoncepcionais com o aumento do risco para o câncer de mama.

 

Podem estar mais predispostas a ter a doença mulheres que usaram contraceptivos orais de dosagens elevadas de estrogênio, que fizeram uso da medicação por longo período e as que usaram anticoncepcional em idade precoce, antes da primeira gravidez.

A prevenção primária dessa neoplasia ainda não é totalmente possível devido à variação dos fatores de risco e as características genéticas que estão envolvidas na sua etiologia. Apesar de nada comprovado cientificamente, observamos que as mulheres com baixa autoestima, depressivas, sem apoio familiar principalmente dos maridos, tem uma resposta pior ao tratamento, apresentando uma mortalidade maior. Por isso a ajuda psicológica e realizar cirurgias menos mutiladoras é muito importante para a eficácia do tratamento. A história familiar do pai é tão importante quanto da mãe.

 

A mamografia é a imagem radiológica da mama que permite a detecção precoce do câncer, por ser capaz de mostrar lesões sem fase inicial, muito pequenas (de milímetros). É realizada em um aparelho de raio X apropriado, chamado mamógrafo. Nele, a mama é comprimida de forma a fornecer melhores imagens, e portanto, melhor capacidade de diagnóstico. Estudos sobre a efetividade da mamografia sempre utilizam o exame clínico como exame adicional, o que torna difícil distinguir a sensibilidade do método como estratégia isolada de rastreamento. A sensibilidade varia de 46% a 88% e depende de fatores tais como: tamanho e localização da lesão, densidade do tecido mamário (mulheres mais jovens apresentam mamas mais densas), qualidade dos recursos técnicos e habilidade de interpretação do radiologista. A especificidade varia entre 82%, e 99% e é igualmente dependente da qualidade do exame.

 

Os resultados de ensaios clínicos randomizados, que comparam a mortalidade em mulheres convidadas para rastreamento mamográfico com mulheres não submetidas a nenhuma intervenção, são favoráveis ao uso da mamografia como método de detecção precoce capaz de reduzir a mortalidade por câncer de mama. As conclusões de estudos de meta-análise demonstram que os benefícios do uso da mamografia se referem, principalmente, a cerca de 30% de diminuição da mortalidade em mulheres acima dos 50 anos, depois de sete a nove anos de implementação de ações organizadas de rastreamento.

 

Apesar de ainda existir algumas controvérsias em relação a periodicidade da mamografia, o ideal é realizar a primeira em torno de 35 anos e depois a partir dos 40 anos anualmente. Salvo naquelas mulheres que tem uma mãe muito jovem com câncer de mama, deveremos iniciar 10 anos antes da idade em que sua mãe diagnosticou o tumor. Se discute hoje na literatura naquelas mulheres que apresentam um auto risco de desenvolver o câncer de mama, realizar além da mamografia a ressonância magnética das mamas. A ultrassonografia mamária é um exame complementar, utilizada para identificar, principalmente nas mamas densas, lesões que efetivamente não foram bem visualizadas na mamografia e/ou no exame clínico. Para uma melhor acurácia no rastreio de ser utilizada uma sonda linear, multifrequencial (7,5mhz~13mhz); a sensibilidade do método aumenta mais quando associada ao ECM e mamografia.

 

O auto exame ainda é preconizado para o diagnóstico embora saibamos que a mulher só irá palpar algum nódulo mamária quando ele estiver maior de 1 cm. O INCA não estimula o autoexame das mamas como método isolado de detecção precoce do câncer de mama. A recomendação é que o exame das mamas pela própria mulher faça parte das ações de educação para a saúde que contemplem o conhecimento do próprio corpo.  Evidências científicas sugerem que o autoexame das mamas não é eficiente para a detecção precoce e não contribui para a redução da mortalidade por câncer de mama. Além disso, traz consequências negativas, como aumento do número de biópsias de lesões benignas, falsa sensação de segurança nos exames falsamente negativos e impacto psicológico negativo nos exames falsamente positivos. Portanto, o exame das mamas feito pela própria mulher não substitui o exame físico realizado por profissional de saúde (médico ou enfermeiro) qualificado para essa atividade.

 

Os sintomas iniciais do tumor de mama mais frequentes são: nódulo palpável, retrações da pelo e/ou mamilo, saída de secreção pelo mamilo principalmente se for sanguinolento e unilateral. Em alguns casos pode iniciar como uma ferida no mamilo acompanhado de prurido (coceira ). A dor mamária na maioria das vezes não esta relacionado ao câncer de mama e sim as alterações funcionais benignas da mama.

Com o tratamento adequado nas fase iniciais, as pacientes tem índice de cura em torno de 98% em 10 anos . Já nos tumores mais avançados este índice cai bastante dependendo de vários outros fatores como idade, tamanho do tumor, presença de linfonodos comprometidos na axila, se o tumor esta relacionado ao estrogênio ou não, etc. Como modo geral, nas mulheres com menos de 35 anos a sobrevida gira em torno de 62% em 10 anos e acima de 35 anos de 72% .

 

O câncer de mama associado a gravidez e lactação é raro, tendo uma incidência de 0,03%. Atualmente nota-se uma tendência a gestações em idade superior aos 30 anos, ocasionando maior número de casos na gravidez (< de 3% ). O retardo do diagnóstico é o principal motivo para justificar o pior prognóstico dessas pacientes, já que para esteios semelhantes a sobrevida e o tempo livre de doença são equivalentes. As alterações fisiológicas ocorridas na gravidez como aumento do volume mamária e da densidade custam dificultar o diagnóstico precoce. Aproximadamente 80% das pacientes grávidas já tem um tumor comprometendo os linfáticos na axila por ocasião do diagnóstico. Quanto mais tardiamente se faz o diagnóstico do câncer, maior será a chance da paciente já apresentar metástases a distância como ossos (mais frequente) , pulmão, cérebro e fígado tornando a doença incurável.

 

Dr. Rodrigo Souto - Mastologista

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